A Teoria do Ciclo em Dark Souls: Por Que Tudo Está Condenado a Se Repetir?
Entenda a teoria do ciclo em Dark Souls, por que o mundo sempre retorna ao mesmo ponto e como isso afeta a história, os finais e o próprio jogador. Uma análise profunda da filosofia por trás da série.
GAMESDESTAQUE
11/17/20253 min ler


Poucos universos de videogame despertam tanta discussão filosófica quanto Dark Souls. Desde o primeiro jogo, fãs interpretam que tudo naquele mundo — da ascensão dos reinos à jornada do protagonista — está preso em um loop que se repete indefinidamente. É um ciclo que nasce com a Chama Original, se fortalece, enfraquece, quase se apaga e é reacendido por alguém que acredita estar salvando o mundo. Mas, ao fazer isso, apenas mantém a engrenagem girando. A pergunta que fica é simples e ao mesmo tempo brutal: Dark Souls está condenado a viver o mesmo destino para sempre?


A origem dessa repetição começa na Chama Original. No início do mundo, só havia escuridão. Quando a chama surgiu, ela criou contrastes — luz e sombra, vida e morte, calor e frio. Foi ela que deu propósito e forma ao mundo, mas também trouxe uma sentença: tudo o que nasce um dia enfraquece. À medida que a chama perdia força, a aproximação de uma era de trevas parecia natural, um ciclo que deveria seguir seu próprio curso. Mas Gwyn, temendo o fim da era da luz, sacrificou sua alma para reacender a chama, forçando o prolongamento artificial daquilo que deveria terminar. Esse ato se tornou a grande prisão do universo. Uma prisão que você, como jogador, inevitavelmente reforça.
O Não-Morto, protagonista de cada jogo, existe justamente por causa dessa decadência constante. Ele é fruto do desequilíbrio, um ser amaldiçoado que se levanta repetidamente, incapaz de morrer de forma definitiva. A jornada dele — derrotar inimigos poderosos, absorver almas, atravessar ruínas de civilizações antigas — sempre converge para o mesmo destino: decidir entre prolongar o fogo ou deixá-lo morrer. O mais perturbador é que, ao reacender a chama, o personagem repete o sacrifício de Gwyn, tornando-se parte da engrenagem. Ao deixá-la apagar, ele inicia uma era de trevas cujas consequências são ambíguas — talvez a libertação, talvez apenas um novo tipo de ciclo.


Os próprios finais da série reforçam essa ideia de repetição inevitável. Reacender a chama mantém a era do fogo viva por mais algum tempo, mas não resolve nada. O mundo apenas ganha uma sobrevida antes da próxima decadência. Permitir que a chama se apague pode parecer um rompimento, mas nada indica que a escuridão seja um destino definitivo. A série sugere que até mesmo as trevas possuem ciclos internos, mutações e reconfigurações, levando novamente ao surgimento do fogo em algum momento.
Dark Souls 2 aprofunda ainda mais a teoria do eterno retorno. O jogo apresenta reinos que surgem, prosperam, entram em ruína e desaparecem, apenas para dar lugar a novos impérios que repetem exatamente os mesmos erros. O diálogo de abertura deixa claro: tudo está destinado a se repetir, e quem carrega a maldição dos Não-Mortos inevitavelmente participa desse ciclo. Já Dark Souls 3 amplia a ideia de colapso. O universo está tão desgastado que diferentes eras parecem se fundir em um mosaico instável, como se o próprio tempo estivesse sendo remendado apenas para manter a chama viva. Nada mais funciona como deveria, e até antigos Lordes retornam como sombras de si mesmos.


A filosofia por trás disso é profunda. Dark Souls usa o ciclo como metáfora para a própria história humana, que também se move entre avanços, quedas, renascimentos e repetições. Guerras retornam, civilizações se repetem, líderes cometem os mesmos erros, eras de ouro surgem e desaparecem. A série nos provoca com uma reflexão incômoda: somos nós que criamos os ciclos — ao tentarmos impedir que algo acabe — ou somos apenas passageiros de uma roda eterna que nunca para de girar?
No fim, tudo indica que o mundo de Dark Souls realmente está preso à repetição. O fogo deveria ter morrido há muito tempo, mas continua existindo porque alguém sempre tenta salvá-lo. A escuridão não representa necessariamente o fim, e sim apenas outra forma de continuidade. A repetição não é apenas um elemento da narrativa — é a verdade fundamental daquele universo. E talvez a grande revelação seja que o ciclo só existe porque seus personagens, incluindo você, têm medo de deixar as coisas chegarem ao fim.
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