Personagem Em Loop: Joel Miller – A Dor, a Sobrevivência e os Limites do Amor

Conheça Joel Miller, o homem marcado por perdas e cicatrizes, mas movido por um amor feroz que molda sua jornada em The Last of Us.

PERSONAGEM EM LOOPDESTAQUE

8/11/20253 min ler

Em The Last of Us, o mundo acabou — mas o que mais nos assombra não são os infectados. É o que sobra dos humanos. Entre os destroços de uma civilização falida, surge Joel Miller, um homem quebrado, moldado pela dor e guiado por um instinto de sobrevivência que, ao longo do tempo, deixou marcas visíveis e invisíveis. E é justamente isso que o torna tão fascinante: Joel é falho, contraditório e, acima de tudo, profundamente humano.

A origem da dor

Joel não começa sua história como um sobrevivente endurecido. No início do surto, ele é apenas um pai solteiro tentando proteger sua filha, Sarah. E quando a perde de forma abrupta e cruel, o mundo perde o sentido. Aquela cena inicial, de poucos minutos, estabelece o tom do que está por vir — e define tudo o que Joel se tornará.

A morte de Sarah não apenas o destrói. Ela o transforma em alguém disposto a fazer o que for preciso para nunca mais sentir aquela dor. Ao longo dos 20 anos que se passam entre o prólogo e o início da jornada com Ellie, Joel vive nas sombras daquilo que perdeu. O jogador sente isso: ele não é um herói. É um homem cheio de rachaduras. E por isso, tão crível.

Sobrevivência como escudo

Durante a maior parte de The Last of Us, Joel age como um sobrevivente frio, metódico, prático. Ele mata quando precisa. Evita conexões. Mantém distância. E quando é forçado a escoltar Ellie, sua primeira reação é rejeitar qualquer vínculo afetivo. Mas Ellie é insistente — não de forma forçada, mas através de sua humanidade, sua curiosidade, seu senso de humor e vulnerabilidade. Aos poucos, ela penetra as defesas que Joel levou décadas para construir.

O jogo é sutil em mostrar essa aproximação. Não há um grande “momento de virada”. São cenas pequenas: um comentário, um sorriso, uma lembrança de Sarah. Joel começa a ver Ellie não só como uma missão, mas como alguém que pode, talvez, preencher o vazio que a morte de sua filha deixou.

A escolha final: egoísmo ou amor?

Ao chegar no hospital dos Vagalumes, Joel descobre que Ellie precisará morrer para que uma possível cura seja criada. É aqui que sua transformação se completa. Ele já não é mais um transportador de carga — é um pai outra vez. E não vai permitir que outra filha seja tirada dele, mesmo que isso custe a salvação do mundo.

Sua decisão é controversa. Muitos o condenam. Outros o entendem. E é essa ambiguidade que o torna tão inesquecível. Joel não escolhe o “bem maior”. Ele escolhe aquela pessoa. Ele escolhe Ellie. Ele escolhe o amor.

Mas o amor, neste mundo, tem um custo — e a segunda parte da história mostra isso com força. Joel paga o preço por sua escolha. E mesmo assim, não demonstra arrependimento. Porque, pra ele, o amor vale mais do que a lógica. Mais do que a humanidade. Mais do que qualquer possível cura.

Joel e o reflexo em nós

O que faz Joel permanecer em loop dentro da mente do jogador é o conflito interno que ele gera: faria o mesmo? Seria capaz de abrir mão de uma vida para salvar o mundo? Ou, ao contrário, escolheria proteger quem ama a qualquer custo?

Joel é o espelho do nosso instinto mais primitivo: o de manter vivo aquilo que dá sentido à nossa existência. Ele não é o herói que salva a todos — é o homem que não conseguiu salvar a si mesmo, e por isso tenta salvar alguém.

O legado de Joel

Mesmo depois de sua partida, a presença de Joel reverbera. Em The Last of Us Part II, ele se torna o motor de toda a trama — e também um fantasma. Um símbolo do que se perde quando se ama demais, ou daquilo que sobra quando se escolhe fora da moral coletiva.

Joel nos faz lembrar que, em um mundo onde tudo desmoronou, o amor pode ser tanto uma luz quanto uma ruína.

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