Entre todos os protagonistas marcantes dos games, poucos conseguem equilibrar tão bem carisma, profundidade e desenvolvimento emocional quanto Zagreus, o príncipe do submundo em Hades, jogo da Supergiant Games.

Mas o que torna Zagreus tão especial?

É fácil pensar que Hades é “só mais um roguelike”, mas isso desaparece na primeira hora de gameplay. Zagreus não é um herói típico. Ele é sarcástico, gentil, teimoso, persistente — um jovem tentando fugir de um lar que nunca o acolheu por inteiro. E é essa tentativa de fuga que constrói a essência do jogo.

Ao contrário de outros personagens que lutam por poder, glória ou vingança, Zagreus quer descobrir a verdade sobre si mesmo. Ele quer encontrar sua mãe, Perséfone, e entender seu lugar no mundo — ou melhor, nos mundos. Sua jornada é íntima, quase existencial, mas sempre embalada com bom humor e uma coragem que só cresce a cada derrota.

E são muitas.

Zagreus morre. Muito. Mas a morte não é o fim — é um recomeço. Cada volta ao salão de Hades (seu pai, autoritário e cheio de rancor) é uma nova chance de conversar, melhorar, rir e continuar tentando. E isso é parte do encanto do jogo: a repetição não é castigo, é construção. É narrativa.

Ele é um dos poucos personagens que crescem com você. Não em poder apenas, mas em afeto, em afeto mútuo com os deuses do Olimpo, com os amigos (como Dusa, Meg ou Thanatos) e com o próprio jogador. Zagreus conversa, flerta, briga e reconcilia. Ele é humano, mesmo sendo um semideus.

A dublagem impecável, o roteiro afiado e o visual estilizado só deixam tudo mais envolvente. O mundo em volta de Zagreus pulsa vida, mitologia e personalidade. Mas é ele quem segura tudo. Sua voz, suas motivações, suas falhas — é isso que faz a gente seguir em frente. E não é exagero dizer: Zagreus transformou um roguelike em uma experiência emocional.

Zagreus representa a persistência de quem quer ser livre, mesmo quando tudo em volta diz o contrário. E no fim, quando ele finalmente encontra sua mãe, não há épico que se compare àquela conversa simples, sincera, dolorida e linda.

Porque Hades é sobre morrer e tentar de novo. Mas Zagreus nos mostra que, às vezes, é tentando de novo que a gente vive de verdade.

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